O alcoolismo crônico é uma doença que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, sendo responsável por sérios problemas de saúde física, mental e social. Dentre as opções terapêuticas disponíveis, o uso de medicamentos como o Dissulfiram tem se mostrado eficaz como coadjuvante no tratamento. Este artigo explora o funcionamento, indicações, contraindicações, reações adversas e interações medicamentosas do Dissulfiram e do Metronidazol, além de abordar a importância de seu uso consciente.
O Que é Dissulfiram?
O Dissulfiram é uma substância que atua de maneira única no combate ao alcoolismo crônico. Ele funciona como um inibidor da enzima aldeído desidrogenase, responsável pela metabolização do acetaldeído, um subproduto tóxico do álcool. Quando o álcool é consumido por um indivíduo em tratamento com Dissulfiram, ocorre um acúmulo de acetaldeído no organismo, gerando uma reação intensa conhecida como reação dissulfiram-álcool.
Essa reação, que pode incluir náuseas, vômitos, cefaleia, rubor facial, dificuldade respiratória e hipotensão, funciona como um forte desestímulo ao consumo de bebidas alcoólicas. De acordo com a literatura científica, a eficácia do Dissulfiram é maximizada quando utilizado em conjunto com psicoterapia e apoio psicológico ao paciente (SKOŘEPA et al., 2020).
Indicações e Uso Terapêutico
O Dissulfiram é indicado principalmente como auxiliar no tratamento do alcoolismo crônico, mas deve ser utilizado em pacientes que demonstram um desejo genuíno de parar de beber. Não se trata de uma cura para o alcoolismo, mas sim de uma ferramenta para reforçar a abstinência.
Ele é comercializado na forma de pó oral, com apresentações que incluem potes de 10 g e colher-medida para facilitar a dosagem. O início do efeito ocorre entre 1 e 2 horas após a administração, e a reação dissulfiram-álcool pode persistir por até 14 dias após a interrupção do medicamento.
Contraindicações
O uso do Dissulfiram é contraindicado em situações como:
- Hipersensibilidade ao medicamento ou a outros derivados tiólicos.
- Gravidez e lactação, devido à possibilidade de efeitos adversos no feto ou no recém-nascido.
- Insuficiência hepática grave, hipotireoidismo e doenças cardiovasculares graves.
- Pacientes em estado de intoxicação alcoólica ou sem conhecimento do tratamento.
Além disso, o uso deve ser feito com extrema cautela em indivíduos com condições preexistentes, como diabetes mellitus, epilepsia, psicoses e insuficiência renal.
Reações Adversas
As reações adversas do Dissulfiram variam de leves a graves, dependendo do perfil do paciente e das condições de uso. Entre os efeitos mais frequentes estão:
- Mais comuns: sonolência, gosto metálico na boca, fadiga.
- Menos frequentes: neurite óptica, neurite periférica e reações psicóticas reversíveis.
- Raros: hepatite, encefalopatia e polineurite.
A neurotoxicidade associada ao Dissulfiram geralmente é reversível após a interrupção do tratamento.
Interações Medicamentosas
O Dissulfiram apresenta interações significativas com outras substâncias, exigindo monitoramento rigoroso:
- O uso concomitante com álcool ou produtos contendo álcool (como xaropes, molhos e loções pós-barba) pode desencadear reações graves.
- Com antidepressivos tricíclicos, pode causar delírio transitório.
- A combinação com Metronidazol pode induzir reações psicóticas, tornando esta associação contraindicada.
- O uso com anticoagulantes e anticonvulsivantes hidantoínicos pode potencializar os efeitos tóxicos destas substâncias.
Metronidazol e Dissulfiram: Combinação Perigosa
O Metronidazol, amplamente utilizado como antimicrobiano, também apresenta interação significativa com o Dissulfiram. Estudos mostram que a associação desses medicamentos pode resultar em confusão mental e reações psicóticas, recomendando-se que o Metronidazol não seja administrado até pelo menos duas semanas após a interrupção do Dissulfiram (FREEDMAN et al., 2019).
Precauções no Tratamento
O uso do Dissulfiram exige compromisso do paciente e acompanhamento médico constante. Alguns cuidados incluem:
- Informar o médico sobre condições preexistentes, como insuficiência renal ou doenças psiquiátricas.
- Evitar a ingestão de qualquer forma de álcool, incluindo alimentos e medicamentos que possam conter a substância.
- Monitorar regularmente a função hepática e a saúde cardiovascular durante o tratamento.
Farmacocinética e Farmacodinâmica
O Dissulfiram é absorvido pelo trato gastrointestinal em cerca de 80-90% da dose administrada. Sua metabolização ocorre no fígado, e sua eliminação é feita principalmente pelos rins, com uma fração exalada pelos pulmões. A duração da ação terapêutica pode se estender por mais de uma semana devido à persistência do medicamento no organismo.
O Dissulfiram, embora não seja uma solução definitiva para o alcoolismo, é uma ferramenta valiosa para pacientes comprometidos com a abstinência. Quando combinado com suporte psicológico e um ambiente favorável, ele pode ser um aliado poderoso no tratamento.
No entanto, seu uso deve ser orientado por profissionais de saúde qualificados, com atenção especial às contra indicações e possíveis interações medicamentosas. A educação do paciente é essencial para garantir a segurança e eficácia do tratamento.
Referências
- Freedman, M. et al. (2019). “Pharmacological Approaches to Alcohol Dependence.” Journal of Substance Abuse Treatment, 105, 58-64.
- Skořepa, J. et al. (2020). “Dissulfiram and the Treatment of Chronic Alcoholism.” Clinical Toxicology, 58(3), 289-295.