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Imunoglobulina Rho(D): Eficácia e Segurança na Profilaxia

A Imunoglobulina Rho(D) humana é amplamente usada para prevenir a sensibilização ao fator Rho(D) em gestantes, reduzindo significativamente os riscos de doença hemolítica do recém-nascido (DHRN) e complicações associadas a incompatibilidades sanguíneas Rho(D). Apresentada como solução injetável em ampolas de 1,5 ml, a imunoglobulina humana é destinada à profilaxia em situações específicas, sobretudo em mulheres Rh-negativas.

O Papel da Imunoglobulina Rho(D)

Quando uma mulher Rh-negativa está grávida de um feto Rh-positivo, pode ocorrer uma resposta imune em que o corpo materno identifica as hemácias fetais como “estranhas” e produz anticorpos anti-D. Essa resposta pode desencadear a destruição dos glóbulos vermelhos fetais, provocando a DHRN, que, se não prevenida, leva a quadros de anemia grave, icterícia e, em casos extremos, à morte do feto. A administração da Imunoglobulina Rho(D), mais conhecida como Matergam, evita que o sistema imunológico materno reconheça essas células fetais como uma ameaça, bloqueando a produção de anticorpos anti-D.

Indicações para Uso

  1. Pós-parto: É recomendada em mães Rh-negativas que deram à luz bebês Rh-positivos ou du-positivos (variantes do antígeno D). Idealmente, a imunoglobulina deve ser administrada até 72 horas após o parto.
  2. Pré-natal e Pós-parto: Em mulheres Rh-negativas, a profilaxia é iniciada na 28ª semana de gestação e repetida logo após o parto. Estudos indicam que a profilaxia durante a gestação reduz a ocorrência de sensibilização para menos de 0,1%.
  3. Situações Obstétricas e Cirúrgicas: Em casos de aborto, gravidez ectópica, mola hidatiforme e procedimentos invasivos como amniocentese ou biópsia do córion, a imunoglobulina é administrada para prevenir sensibilização subsequente.
  4. Transfusões Incompatíveis: Após transfusões inadvertidas de sangue incompatível Rho(D), a profilaxia com imunoglobulina impede reações hemolíticas perigosas.

Mecanismo de Ação

A Imunoglobulina Rho(D) age bloqueando a sensibilização ao fator Rh em mulheres Rh-negativas ao neutralizar as hemácias fetais presentes no sangue materno. Sua administração intramuscular, especialmente indicada na região glútea, promove uma absorção adequada e eficácia clínica.

Efeitos Colaterais e Riscos

Os efeitos colaterais incluem reações leves como sensibilidade no local da aplicação e febre de curta duração. Em casos raros, surgem náuseas, vômitos e reações alérgicas, sendo possível a ocorrência de reações anafiláticas em situações excepcionais. Nestes casos, medidas como a administração de epinefrina e corticosteroides por via intravenosa são recomendadas, além de suporte respiratório e manutenção do volume sanguíneo.

Contraindicações e Precauções

O uso de imunoglobulinas Rho(D) é contraindicado em pacientes com histórico de hipersensibilidade ao produto, trombocitopenia severa e outros distúrbios de coagulação que impeçam a aplicação intramuscular. É importante considerar cuidadosamente os riscos em pacientes com deficiência de IgA, uma vez que a presença de anticorpos anti-IgA pode aumentar a probabilidade de reações alérgicas graves.

Para prevenir interferências imunológicas, é recomendável um intervalo de três meses entre a administração de imunoglobulinas e vacinas de vírus vivos, como as de sarampo, rubéola e varicela. Vacinas orais e inativadas, como a da poliomielite e da gripe, não requerem tal intervalo, e em certos casos, como vacinação puerperal contra rubéola, o teste sorológico para anticorpos pós-vacinação pode assegurar sua eficácia.

Modo de Administração

A profilaxia pós-parto recomenda uma dose de 300 µg, administrada entre duas a 72 horas após o parto, sem necessidade de teste para infiltração de células HbF. Em casos de profilaxia pré-natal, a dose é repetida na 28ª semana e reforçada após o parto. Quando aplicada após procedimentos obstétricos ou transfusões incompatíveis, as doses variam de 100 a 300 µg conforme a situação.

Em especial, a aplicação intramuscular da Matergam requer cuidados, pois a injeção intravascular acidental pode causar sintomas graves, incluindo choque. Após aberta, a ampola deve ser utilizada imediatamente para evitar degradação dos componentes imunológicos.

Referências Bibliográficas

  • Urbaniak, S. J., & Greiss, M. A. (2000). RhD haemolytic disease of the fetus and the newborn. Blood Reviews, 14(1), 44-61.
  • Bowman, J. M. (2006). The prevention of Rh immunization. Transfusion Medicine Reviews, 20(1), 1-6.
  • Hadley, A. G. (2006). Haemolytic disease of the fetus and the newborn. Vox Sanguinis, 90(4), 175-183.