A colagenase é um medicamento enzimático amplamente utilizado para o desbridamento de lesões cutâneas, promovendo a remoção de tecidos necrosados de forma segura, eficaz e praticamente indolor. Este artigo explora as propriedades, indicações, contra indicações e modo de uso da colagenase, destacando sua eficácia no tratamento de feridas e seu impacto na cicatrização.
Princípio Ativo e Apresentação
A colagenase é uma enzima proteolítica derivada de culturas bacterianas que desempenha um papel crucial na digestão seletiva de colágeno em tecidos necrosados. A apresentação comercial mais comum é em forma de pomada dermatológica contendo 0,6 U/g, disponível em bisnagas de 30 g e 50 g, sendo a última acompanhada de uma espátula para facilitar a aplicação. Sua fórmula base utiliza vaselina sólida e líquida como veículo, garantindo maior estabilidade e facilidade de uso.
Indicações Clínicas
A colagenase é indicada principalmente para o tratamento de lesões cutâneas com presença de tecido necrosado ou crostas. Sua ação desbridante facilita a limpeza enzimática das áreas afetadas, acelerando o processo de cicatrização sem causar sangramento ou dor significativa. Essa propriedade a torna uma escolha ideal para:
- Úlceras de pressão (escaras),
- Feridas diabéticas,
- Lesões traumáticas,
- Queimaduras de segundo e terceiro graus,
- Áreas com necrose pós-cirúrgica.
Farmacocinética e Mecanismo de Ação
A colagenase atua diretamente sobre o colágeno fibrilar presente nos tecidos necrosados, degradando-o em peptídeos menores. Esse processo ocorre em um período de 1 a 14 dias, dependendo da extensão e das características da lesão. Na maioria dos casos, os resultados são perceptíveis nos primeiros seis dias, evidenciando uma redução significativa no tecido desvitalizado.
Contraindicações e Cuidados Especiais
O uso de colagenase é contraindicado em pacientes com alergia conhecida ao princípio ativo ou a outros componentes da fórmula. Além disso, cuidados especiais devem ser tomados em determinadas condições:
- Pacientes Diabéticos: Lesões em gangrena seca devem ser umedecidas com cautela para evitar a conversão para gangrena úmida.
- Alterações de pH: O intervalo ideal para a eficácia da enzima está entre pH 6 e 8. Substâncias com pH fora dessa faixa, como soluções ácidas ou produtos contendo metais pesados (mercúrio e prata), podem inativar a enzima.
- Risco de Infecção Sistêmica: Pacientes debilitados devem ser monitorados para sinais de bacteremia.
Além disso, é fundamental evitar o uso concomitante de agentes tópicos como tetraciclinas, gramicidina e tirotricina, que podem reduzir a eficácia da colagenase.
Modo de Uso
A aplicação correta é essencial para o sucesso terapêutico:
- Limpe a área com solução fisiológica estéril, mantendo o local ligeiramente úmido.
- Remova tecidos necrosados ou crostas densas, utilizando compressas umedecidas, se necessário.
- Aplique uma camada uniforme de pomada, com cerca de 2 mm de espessura.
- Cubra com gaze umedecida para otimizar a atividade enzimática.
- Troque o curativo diariamente, podendo repetir a aplicação até duas vezes por dia.
Essa abordagem garante uma ação eficaz, minimizando riscos de complicações como irritações ou infecções.
Efeitos Adversos e Superdosagem
Embora raros, os efeitos adversos podem incluir:
- Irritação local,
- Eritema transitório,
- Hipersensibilidade sistêmica (relatos isolados).
Em casos de superdosagem tópica, a lavagem da área com iodopovidona pode interromper a ação da enzima. Já na ingestão acidental, é recomendado provocar vômitos e realizar lavagem gástrica, se necessário.
Armazenamento e Conservação
Para garantir a estabilidade e eficácia do medicamento, ele deve ser armazenado em temperatura ambiente, entre 15°C e 30°C, longe da luz solar direta. O prazo de validade é de 24 meses após a fabricação, e qualquer alteração na aparência do produto deve ser avaliada por um farmacêutico.
A colagenase é uma ferramenta indispensável na dermatologia e no tratamento de feridas, promovendo uma limpeza eficiente e facilitando a regeneração tecidual. Seu uso, porém, deve ser acompanhado de orientações precisas e cuidados rigorosos para evitar complicações e maximizar os resultados.
Referências Bibliográficas
- Bernabei, R., et al. Wound Care Management with Enzymatic Debridement. Clinical Updates in Wound Healing, 2020.
- Singh, A., et al. The Role of Collagenase in Chronic Wounds. Advances in Skin & Wound Care, 2019.
- Schumann, L. Pharmacological Aspects of Collagenase Use in Dermatology. Journal of Dermatological Science, 2018.