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Aminoglutetimida: Um Inibidor Crucial na Terapia Endócrina e Oncológica

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A aminoglutetimida é um composto químico classificado como um inibidor da biossíntese de esteroides. Esse fármaco exerce uma função vital no tratamento de condições como carcinoma de mama avançado em mulheres pós-menopáusicas, carcinoma de próstata metastático e, de maneira notável, na síndrome de Cushing. A sua eficácia decorre da capacidade de bloquear a conversão de colesterol em pregnenolona, etapa inicial crucial na síntese de esteroides, incluindo glicocorticoides, mineralocorticoides e hormônios sexuais.

Indicações Terapêuticas

A aminoglutetimida é amplamente utilizada em contextos oncológicos e endócrinos, com indicações que abrangem:

  • Carcinoma de mama avançado em mulheres pós-menopáusicas, induzido tanto naturalmente quanto artificialmente.
  • Carcinoma metastático de próstata, onde atua de forma paliativa, controlando a progressão da doença.
  • Tratamento da síndrome de Cushing, uma condição resultante de tumores adrenocorticais, hiperplasia adrenocortical ou produção ectópica de ACTH.

No contexto da síndrome de Cushing, a aminoglutetimida pode ser empregada como pré-medicação antes de cirurgias, no manejo de recidivas pós-adrenalectomia ou em casos não operáveis. Sua função é reduzir a hiperprodução de cortisol, o hormônio central na fisiopatologia dessa doença.

Efeitos Colaterais

Embora eficaz, a aminoglutetimida apresenta uma série de efeitos colaterais que devem ser gerenciados cuidadosamente. No sistema nervoso central, são comuns sintomas como sonolência e letargia, especialmente no início do tratamento, com melhora após seis semanas. Em casos isolados, pacientes podem apresentar insônia, confusão e até mesmo depressão.

No que diz respeito à pele e anexos, rash cutâneo é uma ocorrência comum nas primeiras semanas de tratamento, frequentemente associado à febre. Apesar de desaparecer espontaneamente, raramente pode evoluir para reações graves, como a síndrome de Stevens-Johnson ou, em casos ainda mais raros, a síndrome de Lyell.

Problemas gastrointestinais como náusea são ocasionais, enquanto vômito, diarreia e anorexia ocorrem raramente. A função hepática também pode ser comprometida, com casos isolados de hepatite colestática e icterícia sendo relatados. No sistema endócrino, a insuficiência adrenal é uma rara complicação, manifestando-se por sintomas como hiponatremia, hipotensão e hipoglicemia.

Sistema Hematológico e Reações Alérgicas

Outro aspecto preocupante do tratamento com aminoglutetimida envolve o sistema hematológico, com relatos de agranulocitose, leucopenia e trombocitopenia. Casos mais graves incluem pancitopenia e anemia. Pacientes com reações alérgicas podem desenvolver alveolite alérgica, caracterizada por infiltração eosinofílica pulmonar. Nesses casos, é recomendável suspender imediatamente o tratamento.

Gerenciamento da Terapia

A administração da aminoglutetimida deve ser feita com extremo cuidado, começando com doses baixas e aumentando gradualmente para minimizar os efeitos colaterais. A dose inicial típica é de 125 mg duas vezes ao dia, com incrementos de 250 mg por semana, até que a dose máxima tolerada seja atingida, sem ultrapassar 1000 mg ao dia.

No tratamento de carcinomas metastáticos de mama e próstata, é recomendada a combinação de aminoglutetimida com glicocorticoides, como hidrocortisona ou acetato de cortisona, para compensar a redução na biossíntese endógena de esteroides. No entanto, glicocorticoides sintéticos, como prednisona ou dexametasona, devem ser evitados, pois a aminoglutetimida acelera sua degradação, dificultando o ajuste da dose ideal.

Para o tratamento da síndrome de Cushing, a dosagem depende da condição subjacente. Nos casos de adenoma adrenocortical, doses de 250 mg duas a três vezes ao dia geralmente normalizam os níveis de cortisol. No carcinoma adrenocortical, doses de até 1000 mg ao dia podem ser necessárias, enquanto na produção ectópica de ACTH, pode ser necessário administrar até 1750 mg divididos ao longo do dia.

Monitoramento e Ajustes

Durante o tratamento com aminoglutetimida, o monitoramento rigoroso dos níveis plasmáticos de cortisol é crucial. Além disso, é importante realizar avaliações periódicas da função tireoidiana, pressão arterial e contagem sanguínea, particularmente durante os primeiros dois a três meses de tratamento. A ocorrência de discrasias sanguíneas, como leucopenia ou trombocitopenia, exige a interrupção imediata do tratamento.

Caso surja rash cutâneo persistente ou sintomas de hipofunção adrenal, como hipotensão ou vertigem, o médico pode considerar a adição de fludrocortisona à terapia. Em alguns casos, pode ser necessário aumentar temporariamente a dose de glicocorticoides.

Contraindicações e Precauções

O uso de aminoglutetimida é contraindicado em pacientes com histórico de hipersensibilidade à própria aminoglutetimida ou à glutetimida, uma substância estruturalmente semelhante. Outras contraindicações incluem porfiria e gravidez, devido ao risco de toxicidade fetal.

Além disso, sob condições de estresse como cirurgias ou traumas, os pacientes devem ser monitorados cuidadosamente para sinais de hipofunção adrenal. Nesses casos, pode ser necessário suplementar com hidrocortisona para prevenir complicações graves.

Considerações Finais

A aminoglutetimida representa uma ferramenta importante no manejo de condições complexas como cânceres hormodependentes e síndromes endócrinas. Embora eficaz, seu uso requer um monitoramento cuidadoso e ajustes terapêuticos constantes para minimizar os riscos e garantir a máxima eficácia. A integração de terapias de reposição com glicocorticoides e a gestão de possíveis efeitos adversos, tanto agudos quanto crônicos, são essenciais para o sucesso do tratamento. Para garantir a segurança do paciente, uma abordagem multidisciplinar que envolva médicos, farmacêuticos e bioquímicos é recomendada.

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