Bulário Brasil

Estreptoquinase: Usos, Mecanismos e Precauções em Terapias Trombolíticas

A estreptoquinase é um agente trombolítico eficaz na dissolução de trombos sanguíneos, atuando como um facilitador crítico para intervenções em casos de emergência, como o infarto agudo do miocárdio, trombose venosa profunda e embolia pulmonar. Seu mecanismo de ação aproveita as propriedades das enzimas bacterianas do estreptococo, que são purificadas e utilizadas para ativar o plasminogênio, convertendo-o em plasmina. Essa enzima ativa tem a função de degradar as moléculas de fibrina que compõem os coágulos, promovendo sua dissolução.

Esse fármaco, classificado entre os anticoagulantes e antitrombóticos, é particularmente relevante por sua rápida ação em cenários de tromboembolismo, onde cada minuto é crucial para restaurar o fluxo sanguíneo e preservar a função tecidual. Sua eficácia é notável nas primeiras horas após eventos tromboembólicos, motivo pelo qual seu uso requer precisão quanto ao tempo e à forma de administração. O medicamento está disponível na apresentação de 250.000 UI como pó para solução injetável e é frequentemente utilizado em hospitais com monitoramento cuidadoso dos parâmetros hemodinâmicos do paciente.

Indicações Clínicas e Administração

A estreptoquinase é indicada principalmente para administração intravenosa em condições de risco de vida causadas por oclusão arterial ou venosa. As principais indicações incluem:

  1. Infarto Agudo do Miocárdio (IAM): Em casos de infarto transmural, ocorrido nas últimas 12 horas com elevação do segmento ST, a estreptoquinase é administrada para dissolver o trombo que obstrui a circulação coronária.
  2. Trombose Venosa Profunda (TVP): Ideal para tromboses ocorridas nos últimos 14 dias, onde se objetiva a recanalização do vaso e a prevenção de embolias.
  3. Embolia Pulmonar Extensa: Em situações de embolismo pulmonar agudo, a estreptoquinase age rapidamente na dissolução dos trombos, restaurando o fluxo sanguíneo pulmonar.
  4. Doenças Arteriais Oclusivas Crônicas e Tromboses Periféricas: Estas condições, ocorridas há menos de seis semanas, também são tratadas com estreptoquinase para restabelecer a circulação arterial e venosa periférica.

Em oclusões das artérias e veias centrais da retina, a estreptoquinase pode ser utilizada para dissolver coágulos e prevenir danos à visão, desde que administrada nas primeiras seis a oito horas para oclusões arteriais e dentro de dez dias para oclusões venosas.

Contraindicações e Precauções

O uso da estreptoquinase é contraindicado em várias situações devido ao risco aumentado de hemorragia. Pacientes com histórico de sangramentos recentes, distúrbios de coagulação, acidentes vasculares cerebrais (AVC) recentes ou procedimentos cirúrgicos intracranianos devem evitar este fármaco. Outras contraindicações incluem:

  • Hemorragias Internas Ativas: Qualquer evidência de sangramento interno atual ou recente contraindica o uso da estreptoquinase, pois o risco de agravamento é elevado.
  • Distúrbios da coagulação: Pacientes com coagulopatias ou deficiência na formação de fibrina devem evitar este medicamento, devido ao risco de hemorragias incontroláveis.
  • Histórico de Trauma Craniano Recente: Em casos de traumatismo craniano recente, a estreptoquinase pode exacerbar o risco de sangramento intracraniano.
  • Malformações Vasculares ou Neoplasias com Potencial Hemorrágico: Pacientes com anomalias vasculares ou tumores com risco de sangramento devem ser avaliados cuidadosamente antes do uso.

Além disso, o uso em pacientes com hipertensão não controlada ou com próteses vasculares recentes requer atenção devido ao risco potencial de sangramento no local da intervenção.

Administração Sistêmica e Local

Para tratamentos de emergência, como infarto agudo do miocárdio, a estreptoquinase é geralmente administrada em uma dose inicial de 1.500.000 UI ao longo de 60 minutos. Em situações de tromboses periféricas, a dose inicial é de 250.000 UI, seguida de uma infusão de manutenção de 1.500.000 UI por hora por até seis horas, com avaliação cuidadosa do efeito trombolítico.

Em casos de tromboses periféricas e doenças oclusivas crônicas, a estreptoquinase pode ser administrada localmente com um bolus de 20.000 UI diretamente no vaso obstruído, seguido de doses de manutenção entre 2.000 UI e 4.000 UI por minuto ao longo de 30 a 90 minutos. Quando necessário, angioplastias podem ser realizadas simultaneamente para otimizar o tratamento.

Interações Medicamentosas

O uso de estreptoquinase em conjunto com anticoagulantes como a heparina ou medicamentos antiplaquetários, como o ácido acetilsalicílico, aumenta o risco de hemorragia. É essencial interromper qualquer tratamento anticoagulante ou ajustar sua dose antes do início da terapia trombolítica com estreptoquinase. No caso do ácido acetilsalicílico, estudos mostram uma ação sinérgica que pode prolongar a vida em pacientes com suspeita de infarto, sendo recomendada a sua continuidade por pelo menos um mês após o início da terapia.

Riscos e Efeitos Colaterais

Entre os efeitos colaterais mais comuns, observa-se hipotensão, taquicardia e, em alguns casos, bradicardia. Tais reações são mais frequentes no início do tratamento, exigindo que a infusão seja lenta. A profilaxia com corticosteroides pode ser útil na prevenção desses efeitos.

A estreptoquinase permanece como um medicamento de importância vital no tratamento de condições tromboembólicas agudas. Contudo, seu uso exige rigor na avaliação dos riscos e na monitorização do paciente, especialmente em termos de histórico clínico e potenciais interações medicamentosas. Este fármaco é um recurso indispensável em contextos de emergência médica, desde que administrado dentro dos protocolos de segurança estabelecidos.

Referências Bibliográficas

  1. Braunwald, E., Zipes, D. P., & Libby, P. (2004). Heart Disease: A Textbook of Cardiovascular Medicine. Philadelphia: Elsevier.
  2. Hirsh, J., O’Donnell, M., & Eikelboom, J. W. (2001). Antithrombotic therapy and prevention of thrombosis. Chest.
  3. Monograph of Streptokinase – NIH National Library of Medicine. (2023). PubMed Health.